1 de maio de 2010

esta história de quem eu me tornei, é seu legado, tanto quanto o meu


Independente de quando eu for, pode ser aos quarenta e dois ou aos oitenta e dois, você esquecerá partes inteiras de mim. Essa é a benção e a maldição da perda: você não pode escolher o que cai na inevitável dissolução da lembrança, nem o que fica com você, nem o que irá assombrá-la a noite, sua cabeça pesada de lembranças, enquanto seu marido sonha com parede de escalada e coxas cobertas de lycra.
Talvez o resultado da perda- as migalhas de lembrança- tenha, de alguma maneira, me amedrontado mais do que a perda em si. A verdade é que eu nunca aprendi a andar de bicicleta, porque, entre outras razões, é algo que nunca se esquece. Esta sou eu: alguém que ao mesmo tempo anseia por algo e teme pelo compromisso de lembrar. Há o esquecimento, a desintegração da memória, de pouquinho em pouquinho; e há a impossibilidade de esquecer, a marca em cicatriz, com todas suas camadas. Ambos me assombram de suas maneiras próprias.
Você jamais conhecerá a pessoa que um dia eu fui, aquela que existiu antes de você, de algumas formas, antes mesmo que eu fosse eu, mas esta historia de quem eu me tornei, esta historia sobre nós, é seu legado, tanto quanto o meu.


the opposite of love

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